Primeiramente gostaria de dizer que as técnicas descritas nesta página não são para uso profissional ou comercial, mas sim para aqueles que gostariam de produzir seu próprio cogumelo como hobby ou complemento alimentar. É importante ressaltar que o microclima de cada região irá influenciar diretamente no cultivo, então não adianta copiarem modelos de outras regiões, pois terão que fazer suas próprias experiências e adaptá-las as suas condições. Também não entrarei em detalhes de construções elaboradas, equipamentos sofisticados, investimentos, mercado consumidor e lucro, pois este não é o objetivo deste site. Não comercializamos nada, só difundimos conhecimento. O único e maior interesse é desmistificar a técnica de cultivo do cogumelo Pleurotus ostreatus, popularmente conhecido como Hiratake.
Depois de alguns anos realizando experiências de cultivo, pasteurização e ambientação dos substratos inoculados cheguei a algumas conclusões que serão divulgadas nesta página. As fotos seguem uma ordem cronológica e são auto-explicativas, mesmo assim farei um comentário ao lado de cada uma. O processo de cultivo inicia-se a partir da semente já inoculada, pré-supondo que os iniciantes já tenham comprado a semente de um produtor idôneo. Para obtenção de sementes ou substratos já inoculados indico a profª Margarida, microbiologista e produtora de cogumelos em Tijucas/SC (contatos pelo e-mail: margarid1@terra.com.br). Para os que são de fora de Santa Catarina, o site http://www.cogumelohobby.bravehost.com/ é um ótimo lugar para comprar suas sementes. Então, achem um fornecedor, comprem suas sementes e bom cultivo.
Gostaria de fazer um agradecimento especial à Mônica e Mariela (estagiárias de Permacultura aqui no Curupira) que participaram deste experimento e foram autoras e modelos de muitas das fotos. E à professora Margarida, minha amiga e mentora, que com sua paciência passou-me toda a informação que precisei para iniciar minhas primeiras experiências com o cultivo do cogumelo Pleurotus ostreatus. E por fim, minha esposa Simone, que além de parceira nas experiências e aprendizado foi a minha maior incentivadora, pois ela é vegetariana e conhece muito bem os benefícios dos cogumelos para a saúde humana.
Cultivando Pleurotus
Para dar inicio as atividades do cultivo do cogumelo fizemos a manutenção das bananeiras, retirando as folhas secas para abrir passagem de luz para os novos brotos . Parte destas folhas secas são separadas para servir de substrato para o cultivo de cogumelo e o restante fica na base das bananeiras para servir como cobertura do solo.
Para usar como substrato, escolham sempre as folhas mais secas e com menos incidência de fungos ou outros parasitas. As folhas devem ser picadas em um picador, triturador ou simplesmente cortadas com tesoura em pedacinhos bem pequenos.
As folhas picadas devem ser recolhidas e colocadas de molho em água não clorada por pelo menos 12h. Depois as coloque para escorrer sobre uma tela em local sombreado até que saia todo o excedente de água.
Depois de escorrida a água despeje tudo dentro de um recipiente limpo e comece a separar alguns materiais. Para aumentar a produtividade pode-se acrescentar farelo de arroz ou soja na quantidade de 10 a 20%. Para regular o pH do composto pode-se acrescentar 2% de carbonato de cálcio ou 4% de cal hidratada. O pH ideal do composto deve estar por volta de 6,0. Depois de acrescentado estes minerais o composto tem que ter aproximadamente 70% de umidade. Na prática ao apertar o composto na mão a água não pode escorrer pelos dedos, mas sim pequenas gotículas devem aparecer. Gostaria de deixar claro que estes minerais e cereais não são imprescindíveis para o cultivo, pois não uso nenhum deles e consigo colher sempre ótimos cogumelos.
Material usado para montagem dos substratos: tesoura, TNT (não-tecido), saco plástico resistente à fervura, elástico, pedaços de cano de PVC 50mm e uma haste de bambu que servirá de guia para as sementes após a pasteurização.
Preencha o saco plástico com a folha de bananeira umedecida e coloque a haste de bambu bem no centro. O cumprimento da haste de bambu irá variar de acordo com a altura do preenchimento do saco.
Agora passe o plástico por dentro da “argola de PVC”, abra para fora e puxe para baixo.
Coloque o pedaço de TNT sobre o plástico e o PVC e prenda com o elástico.
O substrato está pronto para ser levado para a pasteurização.
O tonel de metal que utilizo visualmente é dividido em 3 partes. Na primeira ficará a água que será fervida, e os saquinhos de substrato ficarão distribuído nas duas seguintes.
Para separar as duas camadas de sacos utilizei um protetor de ventilador industrial que comprei no ferro-velho, e bem no centro coloquei um tijolo de 6 furos para facilitar a passagem do vapor e também para que os sacos não caiam para o lado.
Quando adquiri o tonel de metal ele veio com uma tampa e com um grampo para fechá-lo, mas o vapor vazava muito pelos lados. Utilizei um pedaço de câmara de pneu para facilitar a vedação. E bem no centro adaptei uma válvula de água para passagem do vapor. Utilizei durepoxi para fixar a válvula no buraco.
Substratos acomodados dentro do tonel.
Costumo deixar 4 horas na fervura. Não me perguntem qual a temperatura interna ou a pressão, nem imagino, pois não utilizo termômetro. Este foi o tempo que estipulei para fazer uma boa pasteurização com um mínimo de contaminação.
Após a fervura retire os substratos e deixe-os esfriarem na sombra em lugar ventilado. Quando a temperatura atingir uma média de 30°C retire o elástico, o TNT e a haste de bambu, e no espaço do bambu coloque as sementes.
A quantidade de sementes a ser colocada nos sacos é o equivalente a 0,5% a 2% do peso do substrato. O excesso de sementes pode aumentar a produção de gás carbônico e retardar o crescimento.
Feche tudo novamente e o substrato está pronto. Tudo terá que ser feito rapidamente em ambiente sem ventilação e com materiais esterilizados. Uma corrente de calor ascendente ajuda para que os esporos do ambiente não entrem no saco. Para conseguir esta corrente de calor ascendente utilize um bico-de-bunsen ou faça a transferência da semente perto do bico de fogão aceso. Sempre haverá um risco de contaminação por esporos, então feche todas as janelas, prenda os cabelos, e lave as mãos com álcool.
Daí pra frente é só colocar os substratos em local sombreado e com ventilação moderada que a natureza faz o resto. O tempo para que o cogumelo se espalhe pelo substrato varia de 30 a 40 dias, dependendo as condições de umidade e temperatura externa.
Quando perceber que o saco está tomado por uma “teia” branca e já se passou os 30 dias é hora de acordá-lo com um choque térmico. Você pode deixar o substrato dentro da geladeira por 24h e depois é só abri-lo que o cogumelo brotará em 7 dias. Apesar de recomendado por especialistas, hoje em dia não faço mais este processo, apenas deixo que a temperatura mais fria da noite faça isso e tem funcionado muito bem.
A frutificação é o momento em que os predadores mais gostam de atacar. Entre eles está uma mosquinha que gosta de botar os ovos debaixo do chapéu para que as larvas se alimentem do cogumelo. Outro predador é um cascudinho marrom que come o cogumelo, mas este é o que menos lhe trará problemas, pois é só retirá-los e colher os chapéus para o consumo. Para se proteger destes pilhadores indesejáveis você pode usar uma telinha ou tecido bem fino ao redor dos substratos, impedindo a passagem de invasores.
Colheita e conservação
Os cogumelos devem ser colhidos antes que as suas bordas comecem a enrolar. Este tipo de cogumelo liberta esporos para a atmosfera, que uma vez inalados podem provocar problemas pulmonares. Para sua segurança, principalmente se for alérgico e estiver em ambiente fechado, utilize durante a colheita uma máscara de papel ou de gaze.
O cogumelo é um produto muito perecível, podendo, quando deteriorado, causar problemas de saúde. Não consuma cogumelos com aparência ruim, murchos ou fungados. A sua conservação deve ser feita em geladeira, colocados em saco de papel e não de plástico, como é habitual. Este procedimento evita apodrecimentos. Os cogumelos também podem ser desidratados ou ainda congelados.
Com o tempo você pode aprimorar seu espaço e construir estufas plásticas com telas, exaustores, umidificadores e até mesmo ar-condicionado, mas isto já é outra história e deixo para aqueles que apreciam o cultivo de precisão.
A sofisticação e o aprimoramento virão com o tempo, tudo irá depender de sua necessidade e de seu empenho.
Bom cultivo.
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Esquema para pasteurização com 1 ou 2 latões.
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Fontes para pesquisa
Livro: Cultivo de Cogumelos Comestíveis – Vera Bononi, Maria Capelari, Rosana Maziero e Sandra Trufem – Editora Ícone.
Site: Cogumelo Hobby – http://www.cogumelohobby.bravehost.com/
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Galeria de fotos
Hiratake – Pleurotus ostreatus
Espécie comestível muito conhecida, cresce em camadas ou prateleiras nos troncos de árvores mortas, com chapéu marrom-acinzentado, amarelo, rosa ou branco. Na natureza ocorre nos meses de verão outono e inverno. É excelente para comer e é cultivado comercialmente. O tamanho de seu chapéu varia de 3 a 7 cm de diâmetro, seu caule é muito pequeno, sua carne é grossa e com um cheiro agradável de cogumelo silvestre. É um dos cogumelos mais fáceis de cultivar em casa.
Mini-estufa para proteção de ataque de insetos e incidência de luz
Pleurotus amarelo
Pleurotus germinando
Shimeji escaneado, pois nesta época não tínhamos máquina digital
Colheita de Pleurotus cultivado em tronco de madeira, técnica descrita no livro Cultivo de Cogumelos Comestíveis.
Pleurotus rosa encontrado em tronco velho de embaúba aqui no sítio
Pleurotus cinza
Livros para identificação de cogumelos na natureza.
Espécie de Agáricus comestível colhido nocampo de braquiária aqui no sítio
Mesma espécie anterior
Agaricus com o chapéu aberto, 200 gramas.
Espécie de Boletus não identificado achado aqui no sítio
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O mundo dos fungos
Acredita-se hoje que existam cerca de 200.000 espécies diferentes de fungos, distribuídos na natureza nos diferentes ambientes. São numerosos os cogumelos úteis ao homem. Entre eles, citam-se diversos fungos produtores de antibióticos, sendo o mais conhecido o Penicillinum chrysogenum, produtor da penicilina.
Os fungos fermentadores têm importante papel na fabricação de pães, queijos, vinhos e cervejas. Mas a grande e fundamental importância dos fungos na natureza é o papel de decompositor. Eles crescem sobre a matéria orgânica, restos de vegetais e animais, assimilando-os e, transformando-os em substâncias mais simples para serem absorvidos pelos vegetais, permitindo assim, a reciclagem dos elementos da natureza. É um trabalho que nos passa desapercebido, mas sem ele a recirculação dos elementos da natureza estaria prejudicada, dificultando todas as outras formas de vida.
Recentemente com o desenvolvimento da biotecnologia, muitos fungos estão sendo estudados visando sua aplicação na decomposição de resíduos industriais e de difícil degradação e no tratamento de esgoto. Veja o vídeo “Talks Paul Stamets em 6 maneiras para salvar o mundo com cogumelos” onde o Micologista Paul Stamets lista 6 maneiras pelas quais os micélios fúngicos podem ajudar a salvar o mundo: limpando o solo poluído, fazendo inseticidas, tratando varíola e até gripe. Assistam com legenda em português no site da TED.
De um modo geral os fungos são pouco conhecidos pelos brasileiros. Nossos índios utilizavam algumas poucas espécies na alimentação ou com fins medicinais. Designavam os fungos por nomes diferentes: o termo urupê, em tupi-guarani, designa cogumelo e os vocábulos urupê-tinga, urupê-piranga etc. referem-se a fungos distintos mostrando que os índios tinham alguma noção de taxonomia. Esse conhecimento e muitos outros dos indígenas, foi praticamente perdido e não faz parte da cultura brasileira atual à utilização de cogumelos como alimento.
Outros povos, em outros paises, apresentam maior atração por esses organismos. São populações ditas micófilas. Em muitos paises europeus são comuns excursões às matas para coleta de cogumelos utilizados na preparação de pratos, em finais de semana ou férias.
Nas Américas, os mexicanos, principalmente os de origem indígena, colhem fungos silvestres que são vendidos nas feiras e mercados. São utilizados tanto como alimento, como por suas propriedades terapêuticas ou ainda em cerimônias religiosas.
Para os gregos e romanos, a origem dos fungos era um mistério. Ficavam maravilhados com o aparecimento dos fungos, uma vez que não apresentavam sementes. Acreditavam que alguns fungos, como as trufas, eram produzidos pelos trovões ou ainda, os relacionavam a entidades mágicas, como os duendes e bruxas.
Fonte da pesquisa: Cultivo de Cogumelos Comestíveis, Editora Ícone.