Arte do paisagismo Simples, mas deslumbrantes, eles possuem muitas variedades
Nancy Ferruzzi Thame
A arte do paisagismo no Japão é antiga. Originou-se na China e na Coréia, muito antes do século VI. Para a cultura japonesa, o paisagismo é uma das mais elevadas formas de arte, pois expressa a essência da natureza em um espaço limitado, utilizando plantas, pedras e outros elementos característicos em harmonia com a paisagem.
Estes jardins são geralmente organizados com contrastes, como liso e áspero, horizontal e vertical, esbelto e volumoso, que estimulam a mente a encontrar seu próprio caminho à perfeição.
Simples e deslumbrantes, os jardins japoneses possuem muitas variedades.
Princípios que formam a filosofia Zen, como assimetria, simplicidade, maturidade, naturalidade, sutileza, transcendência do convencional e serenidade, ajudam a entender melhor os jardins que sofrem esta influência. Um princípio está ligado ao outro, o sentido se faz do conjunto todo.
Existem outros estilos onde os jardins japoneses também tentam inspirar a serenidade e a introspecção ao incorporarem elementos simbólicos e naturais. Basicamente são cinco estilos que podem auxiliar a conquistar um pouco mais de paz interior.
Os Jardins do Paraíso foram os primeiros espaços japoneses que exibiam uma forte influência da China. A Terra Pura não era uma idéia intangível para os japoneses, mas a realidade física completa, com lindos pavilhões e lagos cheios de flores de lótus. Ele possui uma ilha no meio de um lago, para representar a salvação futura, e uma ponte.
Existem também os Jardins do Chá, que surgiram quando os monges trouxeram para o país o ritual de beber o chá em pó a fim de diminuir a sonolência durante a meditação. As casas são circundadas por um jardim externo, onde os participantes aguardam o início da cerimônia e um interno, sagrado, onde a entrada não é permitida, apenas a observação e contemplação do lado de fora dos muros. Essa série de pequenas áreas do Jardim de Chá é designada como parte do processo de preparação da mente dos convidados para a cerimônia.
Um terceiro tipo é o Jardim Natural, um dos estilos mais simples japoneses. Eles raramente utilizam ornamentos, como lanternas e estátuas, e no lugar de pontes, algumas pedras planas que cruzam qualquer porção de água. Os jardins naturais tentam copiar fielmente uma cena de floresta. Os projetistas acreditam que a sensação de se estar nela e a solidão que a acompanha incentivam o pensamento profundo e a paz mental.
Os Jardins de Passeio com Lago possuem um lago ornamental como parte central e um caminho que contorna a periferia do espaço. O caminho pode se ramificar em muitos lugares, para dar acesso aos locais de contemplação. Apresentam uma variedade de plantas dispostas pelos caminhos, para uma visão prazerosa.
Por último, os Jardins de Pedra, também chamados de Zen, apresentam uma ondulação representando o mar, feita com uma grande extensão de areia ou finos pedregulhos. A areia é rastelada nas beiradas para imitar o padrão das ondas. Para acrescentar a aparência de um mar vasto, esses jardins possuem faixas de areia, pedras e seixos, assim como ilhas de vegetação. Às vezes, as pedras da área de rastelamento são posicionadas de maneira que possam sugerir uma parábola familiar ou uma história. Muitos jardins zens são observados a partir das beiradas e quase nunca possuem caminhos que cruzam a área de rastelamento. Têm pouca vegetação, com pinheiros negros que servem como fundo.
Os jardins japoneses mostram um grande desafio da humanidade, que é visualizar o quanto a simplicidade é deslumbrante, tanto na contemplação quanto nas atitudes.
Nancy Ferruzzi Thame é engenheira agrônoma, formada pela ESALQ - USP em 1982 e proprietária da empresa Estado de Sítio.
Telefone: (019) 3433-2142.